A inelegibilidade de Bolsonaro e as eleições de 2024
Sem seu nome na urna eletrônica, o ex-presidente pode levar o PL a aumentar seu número de prefeituras?
Com a iminente decretação da inelegibilidade de Jair Bolsonaro, muito se fala sobre como ele continuará atuando na política brasileira sem poder ter seu nome na urna eletrônica que tanto atacou. Em especial, discute-se o papel que vai desempenhar já no próximo pleito municipal, em 2024.
Muitos comparam a possibilidade de o ex-presidente exercer um papel de puxador votos e ser uma figura de influência com a situação vivida por Lula em ocasião da sua prisão. Mesmo impedido de ser candidato pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e não podendo sequer dar entrevistas durante o período eleitoral, em função de decisão do STF, sua imagem e o histórico de seus governos foram fortes o suficiente para levar Fernando Haddad a ter mais de 40 milhões de votos. Isso em um cenário no qual a Lava Jato, com toda sorte de irregularidades, incluindo o vazamento de uma delação não homologada de Antonio Palocci, alimentava o antipetismo.
Bolsonaro teria o mesmo potencial para influenciar nas eleições de 2024? Diz-se que o PL aposta que seja possível aumentar de 343 para ao menos 1 mil o número de prefeituras comandadas pela sigla. É uma conta pouco crível, para dizer o mínimo, até porque nenhum partido hoje detém tal número de prefeituras. No último pleito, o MDB, primeiro neste ranking, elegeu 784 prefeitos.
É importante lembrar que nestas eleições, em 2020, o bolsonarismo estava no poder federal. Depois do MDB, PP e o PSD ficaram em segundo e terceiro lugares, respectivamente, no ranking de maior número de prefeituras conquistadas. São duas legendas que têm figuras alinhadas com o extremismo, mas nem de longe podem ter seu crescimento atribuído a isso, com prefeitos muito mais identificados com um “modo Centrão de ser”, caracterizado por um caráter mais difuso do ponto de vista ideológico.
Além disso, a história política brasileira mostra que questões locais são muito mais decisivas do que apoios de figuras com projeção nacional ou mesmo grandes questões que ultrapassem o âmbito municipal. É o tipo de pleito em que o eleitor é por vezes muito mais pragmático, levando em conta mais a qualidade do asfalto do que temas abstratos ou de cunho moral.
Assim, estar ao lado de uma figura que tem inegável projeção, mas um elevado grau de rejeição, pode ser um complicador para muitos candidatos a prefeito. Em determinadas circunstâncias, como para nomes com pouca visibilidade ou em cidades em que o bolsonarismo é dominante de forma inconteste, pode valer a pena. Em outros locais, pode servir como tiro no pé de qualquer pretensão eleitoral.
O teste real da dita influência pode se dar nas Câmaras municipais. É na esfera parlamentar que o estilo e o discurso consagrados do ex-presidente faz mais sucesso, com vereadores, deputados e mesmo senadores vestindo o figurino de Bolsonaro em estilos diferentes. Caso o PL consiga um crescimento significativo ali, é uma mostra de que o extremismo de direita conseguiu não só fincar pé na vida política brasileira, como também se manterá como força atuante que ajuda a perpetuar as ideias que catapultaram o ex-presidente.
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Foto de capa: Marri Nogueira/Agência Senado
Reflexão concisa, clara e crítica. O Glauco Faria é fantástico! Para um país, que passou o governo de 2019 a 2022 sob o autoritarismo que tentou desmoralizar as instituições republicanas, é necessário que se concretize a mensagem do Glauco Faria, de que o bolsonarismo não tenha força para alavancar a mil prefeituras que o PL quer tanto, mas que deverá, sim, ficar só querendo! Deus nos ouça!