CPI do 8 de janeiro mostra como o bolsonarismo abandona os seus
Jean Lawand Junior não contou com apoio de vários parlamentares da oposição e, mesmo sendo coronel da ativa, não usou farda em depoimento
O depoimento do coronel do Exército Jean Lawand Junior nesta terça-feira (27), na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de janeiro, mostrou mais uma vez o modus operandi do bolsonarismo em relação a aliados e apoiadores que se tornam inconvenientes para o grupo. Neste caso específico, com uma novidade, já que ele, um militar da ativa, não usou a farda em seu depoimento, mas sim terno. Também um sinal importante.
Foi a primeira vez na comissão que integrantes da base do governo e da oposição concordaram em dizer que o depoente mentiu. Em relação às mensagens trocadas com o então ajudante de ordens do presidente Jair Bolsonaro, tenente-coronel Mauro Cid, ele se calou diante de alguns questionamentos de parlamentares e contou versões consideradas risíveis em outras respostas.
O militar foi perguntado sobre mensagens como “Convença o 01 a salvar esse país!”, referindo-se ao ex-presidente, e “Cid, pelo amor de Deus, o homem [Bolsonaro] tem que dar a ordem. Se a cúpula do EB [Exército Brasileiro] não está com ele, da divisão para baixo está. Assessore e dê-lhe coragem”.
Ainda que o conteúdo, principalmente analisado dentro do contexto em que foi escrito, seja bastante óbvio, Lawand alegou que, na verdade, pedia uma “palavra de apaziguamento” de Bolsonaro.
“Não sei quem lhe orientou, mas o senhor não convence ninguém. O senhor apequena sua história, atrofia o sucesso da sua carreira e tenta impor uma narrativa que não para de pé ao menor esforço”, disse o senador Marcos Rogério (PL-RO), ferrenho bolsonarista que se tornou notório na defesa do ex-presidente na CPI da Covid. Ele, assim como outros bolsonaristas na comissão, fez a defesa da narrativa (palavra bastante usada por Rogério, aliás) que separa Bolsonaro dos golpistas, ao mesmo tempo em que defende que não houve de fato uma tentativa de golpe.
Não é a primeira vez que um apoiador do ex-presidente é abandonado à própria sorte. O próprio Mauro Cid, muito mais que um aliado comum, foi rifado. "Ele é um excelente oficial do Exército, jovem ainda, foi das forças especiais, comandos, paraquedistas, tem dado o melhor de si. Peço a Deus que não tenha errado. E cada um siga a sua vida", disse, em visita ao Senado em maio.
A farda de Lawand
Também chamou a atenção o fato de o coronel, mesmo sendo um militar de ativa, não ter usado farda. Segundo o jornalista Valdo Cruz, teria sido uma orientação do próprio Exército, já que as ações não representariam a instituição.
O mesmo pedido também teria sido feito ao hoje deputado federal e ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello quando foi à CPI da Covid, em maio de 2021. O Exército tenta se afastar de integrantes que sejam colocados em posições pouco honrosas, como nestes dois casos, e também reduzir os danos à sua imagem trazidos pelo governo anterior. Quer manter sua influência e ação políticas, mas sem holofotes.
O problema é que muitos de seus integrantes estão envolvidos na trama golpista e nomes graduados irão à CPI. Resta saber que roupa vão vestir.